Carta 17

Querido Amigo:

         Um estudante escreve as seguintes palavras: “Gostaria muito de saber se compreendo. A Bíblia assusta-me. Não posso resolver este assunto, e de pensar nele estou a ficar quase louco. Pode dizer-me se basta aos olhos de Deus, nunca pensar nas coisas da Bíblia e viver para os outros o mais possível? Muitas vezes pergunto a mim próprio, “Como deve viver uma pessoa?” muitas vezes proponho-me fazer o bem, mas sai mal.”

         Evidentemente desgostam a este homem algumas das histórias que lê no Antigo Testamento, as quais, tomadas literalmente são verdadeiramente imorais. A que escreve pode simpatizar com este estudante, porque quando tinha catorze anos a sua mãe insistiu para que lesse a Bíblia. Prometeram-lhe um vestido novo de seda se lesse a Bíblia da primeira à última página. Uma irmã sua também recebeu esta oferta. Lemos até à parte em que Lot vivia numa gruta com as suas filhas, que se encontra no capítulo dezanove do Génesis, e assim pode entender que não lemos muito. E quanto aos vestidos, nunca os recebemos, para mortificação da nossa modéstia e não lemos mais. O Novo Testamento dará ânimo ao neófito, mas a não ser que se compreendam as lições ocultas fundamentais no Antigo Testamento, seria melhor não o ler.

         Os quatro Evangelhos instruem muito e é bom lê-los frequentemente. Os escritos de Paulo também dão ao homem as lições que necessita, e pensar nas lutas dos cristãos daqueles dias primitivos muitas vezes nos dá o ânimo para seguir adiante quando o nosso próprio caminho se encontra pedregoso e escabroso. Mas se se viver uma verdadeira vida cristã, não há que preocupar-se. Deus existe não só na Bíblia, mas em cada flor, no mesmo ar que respiramos, e se nos tornarmos canais puros pelos quais possam correr as grandes forças de Deus, se vivemos e servimos desinteressadamente, então somos salvos. Há milhões de almas no mundo que nunca conheceram a Bíblia, mas são filhos do Grande Pai, chispas do Divino, e por isso, estão a caminho da salvação por outra via, porque todos os caminhos que são limpos e puros conduzem a Deus.

Pergunta este homem, “Como deve viver uma pessoa?” A vida para viver é sua; é o seu próprio caminho, só o próprio o pode percorrer. Por isso aconselhamos-lhe que se sente frequentemente no silêncio em comunhão com o Deus interior que o guiará e assim não errará no caminho.

No capítulo sete de Romanos, Paulo admite que o seu ser inferior está sempre a combater com o seu Eu superior. “Sei que o bem não mora em mim (na minha carne). O querer o bem está em mim, mas não sou capaz de fazê-lo. Não faço o bem que quero, mas o mal que não quero.” Aqui podemos ver que cada alma trava esta batalha, cada um luta para se elevar sobre o ser material. Este esforço é a obra do princípio Divino, que é de Deus. Se não fosse por esta luta o homem seria um autómato e apenas existiria. Quanto mais dura for a luta, mais depressa cresceremos. Quanto mais avançamos no caminho e mais nos elevamos, mais severas são as lições que recebemos.

O caminho da espiritualidade assemelha-se em vários aspectos ao caminho de instrução de um estudante universitário; quanto mais adiantado nos seus estudos, mais difíceis são as lições. Note-se que se avançou desde o jardim de infância até à universidade pelo esforço de aprender as lições. É assim na escola da vida. Nós, cada um, temos que aprender as nossas lições, e dia a dia enfrentamo-las nos nossos problemas materiais. Há sempre uma luta entre o material e o espiritual e as nossas vitórias tornam a vida interessante que vale a pena viver. Mantenhamos pois, um ideal elevado, trabalhando para o alcançar, e teremos ânimo para fazermos cada vez melhor, porque este é o caminho que conduz à grandeza, ao êxito, tanto material como espiritual. “Sempre para diante e para cima.”

Seus, em serviço da humanidade, Outubro de 1937

The Rosicrucian Fellowship,

Mrs. Max Heindel

(cartas aos estudantes)

 

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